top of page

Gestão Ágil: Lições na minissérie Batalha Bilionária: O Caso Google Earth

Saiba como a minissérie do streaming Netflix pode lhe ensinar valiosas lições sobre os desdobramentos da Gestão Ágil de Projetos.


Gestão Ágil na minissérie Batalha Bilionária O Caso Google Earth
Fonte: Netflix

Em primeiro lugar, caro leitor, vamos refletir: o que é Gestão Ágil e como ela funciona?


Nos últimos anos, a gestão ágil de projetos tornou-se uma abordagem popular entre equipes e organizações que buscam aumentar a eficiência e a flexibilidade na entrega de produtos e serviços. Diferente dos métodos tradicionais, que muitas vezes são lineares e rígidos, a gestão ágil prioriza a adaptação e a colaboração constante, permitindo que as equipes respondam rapidamente às mudanças nas necessidades dos clientes e do mercado. A gestão ágil de projetos refere-se a um conjunto de métodos e práticas que visam promover um desenvolvimento mais iterativo e incremental. À primeira vista, o conceito pode parecer simples: em vez de planejar um projeto em detalhes antes de sua execução, as equipes trabalham em ciclos curtos, conhecidos como iterações ou sprints, entregando partes do produto em intervalos regulares. Essa abordagem permite ajustes frequentes e melhorias com base no feedback contínuo do cliente.

Fonte: Slides da aula introdutória de Gestão Ágil  (Leonardo Campos)
Fonte: Slides da aula introdutória de Gestão Ágil (Leonardo Campos)

O termo "ágil" tem suas raízes no Manifesto Ágil, um documento elaborado em 2001 por um grupo de desenvolvedores de software. Esse manifesto estabeleceu os valores e princípios que orientam as práticas ágeis, enfatizando a comunicação, a colaboração e a entrega rápida de funcionalidades. Existem diversas metodologias que se encaixam na abordagem ágil. Algumas das mais conhecidas incluem:


Scrum: Uma estrutura que divide o desenvolvimento em ciclos curtos (sprints) e enfatiza a auto-organização das equipes. As reuniões diárias de "stand-up" ajudam a manter todos atualizados sobre o progresso e os obstáculos.


Kanban: Foca na visualização do fluxo de trabalho e no gerenciamento de tarefas, permitindo que as equipes identifiquem gargalos e melhorem continuamente o processo.


Extreme Programming (XP): Uma metodologia que enfatiza práticas como desenvolvimento orientado a testes, programação em par e integração contínua, visando melhorar a qualidade do software e a capacidade de resposta às mudanças.


Lean Software Development: Baseada nos princípios do Lean Manufacturing, busca eliminar desperdícios e aumentar a eficiência no desenvolvimento de software, focando em entregar valor ao cliente.

Gestão Ágil de Projetos
Fonte: Slides da aula introdutória de Gestão Ágil (Leonardo Campos)

Na prática, a gestão ágil de projetos é implementada através de ciclos repetitivos que permitem a entrega constante de valor. Aqui estão algumas etapas comuns do processo:


1. Planejamento: A equipe se reúne para definir as metas do projeto e as principais funcionalidades a serem entregues. Esse planejamento é geralmente mais leve e flexível em comparação com abordagens tradicionais, permitindo ajustes conforme o trabalho avança.


2. Execução em Sprints: O trabalho é dividido em sprints, que normalmente duram de duas a quatro semanas. Durante cada sprint, a equipe se concentra em desenvolver um conjunto específico de funcionalidades.


3. Reuniões Diárias: Reuniões curtas, chamadas de "stand-ups", são realizadas diariamente para discutir o progresso de cada membro da equipe, identificar obstáculos e planejar as próximas tarefas.


4. Revisão de Sprint: Ao final de cada sprint, a equipe apresenta as funcionalidades concluídas para as partes interessadas, solicitando feedback e sugestões. Essa revisão ajuda a garantir que o produto esteja alinhado com as expectativas do cliente.


5. Retrospectiva: Após a revisão, a equipe se reúne para refletir sobre o que funcionou bem e o que pode ser melhorado no próximo ciclo. Esse processo de autoavaliação é fundamental para a melhoria contínua.


6. Adaptação: Com base no feedback recebido e nas discussões nas retrospectivas, a equipe ajusta suas práticas, estrutura e foco nas sprints seguintes.

Gestão Ágil de Projetos
Fonte: Slides da aula introdutória de Gestão Ágil (Leonardo Campos)

A gestão ágil de projetos oferece várias vantagens, incluindo:


Maior Flexibilidade: A capacidade de adaptar rapidamente o trabalho em resposta a mudanças nas necessidades do cliente é uma das maiores vantagens da abordagem ágil.


Maior Engajamento do Cliente: com o envolvimento contínuo do cliente, as equipes podem garantir que estão entregando exatamente o que é necessário, aumentando a satisfação do cliente.


Redução de Riscos: a entrega incremental permite que problemas sejam identificados e corrigidos rapidamente, reduzindo os riscos associados a grandes falhas.


Melhoria da Qualidade: a prática com testes contínuos e revisões frequentes resulta em um produto final de maior qualidade.


Apesar das muitas vantagens, a gestão ágil também apresenta desafios. Algumas equipes podem encontrar dificuldades em mudar de uma mentalidade tradicional para uma abordagem ágil, especialmente em organizações com uma cultura fortemente hierárquica. Além disso, a falta de clareza sobre papéis e responsabilidades pode levar a confusões e atrasos. Ademais, a gestão ágil de projetos representa uma mudança significativa na forma como as equipes abordam o desenvolvimento de produtos e serviços. Com ênfase na colaboração, na flexibilidade e na entrega contínua de valor, essa abordagem se mostra eficaz em ambientes dinâmicos e em constante mudança. Embora existam desafios a serem enfrentados, o potencial para aumento de eficiência e satisfação do cliente torna a gestão ágil uma escolha atraente para muitas organizações. A implementação bem-sucedida da gestão ágil requer um compromisso contínuo com a melhoria e a adaptação, bem como um foco na comunicação eficaz entre todos os membros da equipe.


Agora, devidamente iniciados, vamos aos desdobramentos desse modelo de gestão na minissérie Batalha Bilionária: O Caso Google Earth.


A década de 1990 foi bastante promissora para projetos envolvendo tecnologia, ponto de partida para muitas inovações que ainda hoje são uteis para o nosso cotidiano. Internet, celulares, computadores, softwares, vendas realizadas presencialmente que se tornaram possíveis por meio da virtualidade. Muitas coisas positivas, com alguns impactos negativos, afinal, tendo o fator humano envolvido, torna-se complicado prever uma horizontalidade na dimensão dos resultados desta interação. Lançada em 2021, Batalha Bilionária: O Caso Google Earth é uma minissérie em quatro longos capítulos, focada em radiografar os desdobramentos de um projeto do período que rendeu debates até recentemente: o suposto roubo da valiosa estrutura do software Terravision, concebido pela equipe dos alemães Carsteen Schleiter e Juri Muller, interpretados por Leonard Scheicher e Marius Ahrendt na fase mais jovem e por Mark Waschke e Misel Maticevic na fase mais madura, respectivamente. Segundo os envolvidos no processo judicial apresentado pela produção, um indivíduo teria recebido informações demais sobre a iniciativa e projetado algo semelhante no território Google, dominante na seara da tecnologia, como nós todos sabemos.


Com direção de Robert Thalheim, também responsável pelo roteiro, juntamente com Oliver Ziegenbalg, Batalha Bilionária: O Caso Google Earth aborda indivíduos acossados pelo esquema predatório das corporações gigantescas. Vítimas da falta de experiência, algo que culminou na empolgação excessiva e, consequentemente, na entrega de informações demais diante de um software com potencial econômico grandioso, contemplamos a briga destas figuras ficcionais, inspiradas em idealizadores da vida real, impactados pela maneira como tiveram uma brilhante ideia tomada de assalto. Em duas linhas temporais, a narrativa mantém um paralelo entre os anos 1990, era de imersão nas ideias, idas e vindas, criação de protótipos, testagem com o público, reunião com patrocinadores, dentre outras questões para todos os envolvidos na dinâmica de um projeto, trafegando pela atualidade, com a dupla de fundadores da ART+COM nos tribunais, a exigir o que é de direito, pois foram os criadores do software.


Em resumo, o Terravision se baseava em imagens aéreas e de satélites para criar uma representação visual de dados espaciais de um projeto. Manipulando um globo e com o botão de zoom, a pessoa que decidisse interagir com o software via imagens concebidas numa sequência contínua, partindo do espaço até chegar a qualquer parte do planeta. Assim, em feiras, encontros e ao encontrar diversas pessoas pelo caminho, os idealizadores acabaram dando informações demais sobre algo tão inovador, abrindo precedentes para que outros interessados em tecnologia copiassem as suas ideias e levassem para outro lugar, onde elas seriam mais desenvolvidas e transformadas em projeto inovador no campo em questão, sempre em frenético movimento. Sem didatismo que atrapalhe o seu avanço enquanto entretenimento, a minissérie investe em episódios de duração excessiva, mas ainda assim, consegue manter um ritmo interessante.

Gestão Ágil na minissérie Batalha Bilionária O Caso Google Earth
Fonte: Leonardo Campos

Os personagens são esféricos, algo que contribui para a qualidade do texto. Em sua dinâmica, podemos observar a realidade enfrentada por muitas startups, destroçadas covardemente por grupos dominantes na lógica tecnológica capitalista, conhecidos por usurpar a inovação alheia e colocar, com trunfo, as suas violentas assinaturas. Ingênuos, os protagonistas da minissérie tinham interesse financeiro no jogo, mas também eram idealistas, interessados em mudar o mundo de alguma forma, bem como suas vidas, tornando-se heróis do campo tecnológico. Como lições valiosas, a produção nos permite refletir sobre engajamento no trabalho em equipe, além de reforçar que informações de teor valioso precisam de tratamento sigiloso, ao menos até se tornarem consolidadas mercadologicamente. Compartilhamento de detalhes fora do âmbito dos envolvidos no projeto pode acarretar numa estressante jornada de perdas, não apenas financeira, mas de tempo, um bem precioso em nossa contemporaneidade agitada.


Além das discussões judiciais que permitem o estabelecimento de um bom roteiro, Batalha Bilionária: O Caso Google Earthapresenta aspectos estéticos bem desenvolvidos: a direção de fotografia de Henner Besuch aproxima os personagens da tela em momentos de intensidade dramática, assim como se afasta para contemplar os espaços concebidos pelo design de produção de Myrna Drews, essencial para compreendermos os contextos por onde os programadores e artistas do projeto Terravision pavimentam as suas caminhadas tecnológicas. Na textura percussiva imersiva, a dupla formada por Anton Feist e Uwe Bossenz concebe uma malha sonora envolvente, de acordo com os conflitos expostos ao longo de cada situação tensa e intensa dos quatro episódios da produção. Ademais, Frank Kaminski, responsável por supervisionar os efeitos visuais, também faz um trabalho eficiente e assegura, para a minissérie, o ritmo visual ideal para entendermos a confluência das duas linhas temporais, bem como as ideações dos protagonistas empreendedores e inovadores.  


Em linhas gerais, uma série que promove entretenimento e muita reflexão. Acompanhe os slides da aula sobre Gestão Ágil com base na minissérie:



Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page